Covid-19: Empresários da ilha Terceira esperam que medidas restritivas sejam aliviadas em breve.
2021-07-26 15:44:36 | Lusa

Os empresários da ilha Terceira, nos Açores, temem prejuízos avultados com o acentuar das restrições devido à covid-19, que entraram hoje em vigor, mas esperam que não se prolonguem por muito tempo.

“Esperemos que estas medidas sejam absolutamente transitórias, muito curtas no tempo e que, como tal, não venham a ter grande impacto na economia local”, afirmou, em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Marcos Couto.

Desde março que a ilha Terceira não tinha transmissão comunitária do novo coronavírus que provoca a doença covid-19, detetando apenas casos de infeção nos rastreios aos viajantes e, em algumas situações, nos seus contactos próximos.

Entre 16 e 22 de julho, a ilha registou 111 novos casos de infeção e a Autoridade de Saúde Regional dos Açores reconheceu a existência de transmissão comunitária, colocando os dois concelhos da ilha no nível de alto risco (o mais elevado de cinco), aplicado quando são detetados mais de 100 novos casos por 100 mil habitantes num período de sete dias.

Há vários meses em muito baixo risco de transmissão, a Terceira passa a ter a partir de hoje medidas mais restritivas de contenção da covid-19, ainda que o executivo açoriano tenha introduzido algumas alterações nas medidas previstas para este nível, alargando os horários de funcionamento da restauração e reduzindo o período de proibição de circulação na via pública.

É nos estabelecimentos de restauração e bebidas que as medidas terão mais impacto, com os restaurantes a serem obrigados a encerrar às 23:00 e os cafés às 20:00, quando até à data podiam funcionar até à meia-noite.

Também a lotação máxima permitida dos espaços sofre uma alteração, baixando de três quartos para um terço da capacidade, e cada mesa só poderá ter quatro pessoas, salvo se do mesmo agregado familiar, quando até à data podia ter 10.

Passa a haver ainda uma proibição de circulação na via pública, entre as 00:00 e as 05:00, salvo exceções previstas na lei, e os estabelecimentos comerciais têm de encerrar às 23:00, com exceção de farmácias, clínicas e postos de abastecimento de combustíveis.

O presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo disse acreditar que a população da Terceira já começou a adotar comportamentos mais seguros e que haverá um decréscimo do número de casos, o que permitirá levantar as medidas mais restritivas em breve, mas considerou que as restrições existentes são “razoáveis”.

“Caso se venha a verificar o pior dos cenários, que seria um aumento dos casos, julgo que as medidas adotadas são razoáveis, equilibradas, que permitem que o turismo e a restauração funcionem, de forma a permitir que quem nos visita tenha condições mínimas para estar na ilha Terceira e que por via disso os impactos sejam mais reduzidos”, adiantou.

Segundo Marcos Couto, as alterações introduzidas recentemente nas restrições horárias dos estabelecimentos nos diferentes níveis de risco “são reveladoras de algum bom senso da parte do Governo”.

“Não é, nesta fase, fechando tudo de forma indiscriminada que conseguiremos controlar a pandemia. O controlo da pandemia é acima de tudo uma questão social, de comportamentos individuais, que se os cumprirmos conseguimos minimizar os danos desta pandemia”, frisou.

Questionado sobre o impacto destas medidas no turismo, o presidente da associação empresarial disse que, mais do que as restrições locais, são as “restrições dos principais mercados emissores” que afetam o setor.

“O grande impacto que houve no turismo regional foi quando a Alemanha decidiu colocar Portugal na lista vermelha e vimos a debandada dos turistas alemães de regresso a casa ou quando Inglaterra decidiu fechar portas e vimos esse mesmo regresso”, explicou.

Gilberto Jarroca, proprietário de vários restaurantes em Angra do Heroísmo, também espera que as novas restrições durem pouco tempo, ainda que admita algum receio de que a situação piore.

“A gente na Terceira deu provas de que é capaz de acatar as orientações e fazer por melhorar a situação. Estou em crer que desta vez vai ser igual, que a situação se vai ultrapassar e que em breve voltaremos à quase normalidade. Espero eu”, avançou.

O empresário revelou ter já reservas de eventos, como casamentos, batizados e aniversários, canceladas e admitiu que as medidas venham a ter um impacto significativo, não tanto pela redução do horário, uma vez que encerra às 22:00, mas pela redução da capacidade de ocupação.

“Além de a ocupação por mesa ser reduzida, há uma limitação da capacidade máxima do estabelecimento. É um bocado penalizador”, frisou.

Já Zita Cota, proprietária de um café, integrado numa queijaria tradicional, lamenta o tratamento diferenciado para estes estabelecimentos, que ao contrário dos restaurantes são obrigados a encerrar às 20:00.

“Estão sempre a massacrar os mesmos. Já tivemos de estar fechados. Sempre que há reduções somos nós que temos reduções”, salientou.

Com os novos horários, os clientes que costumavam sair para tomar café depois do jantar deixam de frequentar o espaço e a empresária prevê uma “quebra muito grande de faturação”, sobretudo numa altura em que se começa a sentir uma retoma do turismo.

“Desde o mês de julho que temos tido muito turismo cá. Não os grupos grandes como antigamente, com autocarros de 40 pessoas, mas muitas famílias”, revelou, acrescentando que, apesar do aumento de casos de infeção, os turistas continuam a sentir-se “à vontade e seguros” na Terceira.

Zita Cota disse esperar que as novas restrições não se prolonguem por mais de 15 dias e defendeu que os cafés são espaços seguros.

“As pessoas estão na sua mesa e quando vão ao balcão pedir usam máscara. Quando vão para as mesas estão só com o seu grupo, não há muito contacto dos grupos uns com os outros, por isso não acho que seja a área de mais risco”, apontou.

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