Manifestação de pescadores em Ponta Delgada quer alertar para "penúria" da classe
2023-03-17 11:05:53 | Rádio Horizonte Açores

Os pescadores vão manifestar-se, esta sexta-feira em Ponta Delgada, para alertarem para as condições de vida "desesperantes e de penúria" devido aos baixos salários e aumento do custo de vida.

A manifestação é promovida pela cooperativa Porto de Abrigo e Sindicato Livre dos Pescadores e está agendada para as 15 horas na Praça da Matriz, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, seguindo-se uma deslocação até à delegação da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, onde será entregue uma moção.

Liberato Fernandes, porta-voz da comissão que promove a manifestação, explicou à agência Lusa que o protesto foi decidido num plenário "muito participado", realizado há cerca de três semanas em Rabo de Peixe, a principal comunidade piscatória dos Açores.

"Assiste-se a uma degradação das condições de vida dos pescadores. Podemos dizer que a situação da pesca é desesperante. Em muitos sítios passa-se fome e a alimentação é feita à base de alimentos baixo custo", sustentou Liberato Fernandes.

Segundo o porta-voz, os pescadores vivem uma "situação de penúria", devido ao aumento constante dos bens de primeira necessidade e aos baixos vencimentos da classe piscatória".

"No último mês há quem nem 100 euros ganhou", assinalou Liberato Fernandes, alertando ainda que "o valor médio" das reformas no setor da pesca situa-se "à volta dos 450 euros mensais", depois de "45 anos no mar".

O responsável deixou a pergunta: "Quem tem despesas com água luz e casa pode sobreviver com 300 euros? Se os senhores que são responsáveis pela política do Governo Regional vivessem nessas condições o que é que aconteceria?".

Os profissionais da pesca e quem depende da atividade marítima criticam ainda a forma como está a ser aplicado o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

"Temos conhecimento de que uma verba substancial já foi alocada à compra de um terreno e um edifício que está em ruínas no Faial que é da Cofaco e essa compra representou mais de 32 milhões de euros. Estimamos que o processo de recuperação desse edifício para montar o Martec [centro de investigação planeado pelo Governo], que ninguém sabe exatamente o que é, vai representar no mínimo 16 milhões de euros", disse Liberato Fernandes.

Para o responsável "seria normal investir dinheiro do PRR na instalação de motores de muito menor consumo nas embarcações e na sustentabilidade futura das pescarias”.

“Mas, nem uma coisa nem outra se enquadram na escritura já realizada", criticou.

Liberato Fernandes adiantou à Lusa que outro ponto que consta da moção aprovada em plenário prende-se com "atrasos no pagamento de verbas" de apoios da União Europeia, às quais "os pescadores têm direito".

"Há um atraso superior a 16 milhões de euros e que já devia ter sido pago há muito tempo", explicou, elencando ainda "o problema do constante aumento do preço dos combustíveis", num período de "redução do valor global das capturas".


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