Mais de 30 % dos alunos da Universidade dos Açores usufruem de bolsas de estudo
2016-03-08 07:29:00 | Rádio Horizonte Açores
A directora executiva dos serviços de acção social da Universidade dos Açores adiantou à Lusa que, "entre os 2700 alunos da academia açoriana, 822 são bolseiros", sendo que "o número tem vindo a aumentar todos os anos".
"Neste momento, na Universidade dos Açores, no ano lectivo 2015/2016, o número de bolseiros representa 30,8% do total de alunos da Universidade, portanto o peso dos bolseiros no número de alunos tem vindo a aumentar", afirmou Ana Gouveia.
A responsável pela acção social da academia açoriana explicou que, no ano lectivo 2014/2015, cerca de 26% dos alunos já dispunham de bolsas e apontou as duas principais razões para esta realidade.
"Uma tem a ver com as dificuldades socioeconómicas das famílias, porque nós temos muitos alunos de agregados familiares em que os dois elementos estão no desemprego, e outra realidade que é comum a todas as universidades e politécnicos é que as universidades mais periféricas estão a absorver aqueles alunos com maiores carências económicas", adiantou a directora dos serviços de Acção Social da Universidade dos Açores.
Ana Gouveia explicou que a grande maioria dos alunos bolseiros da academia açoriana são oriundos da ilha de São Miguel, sendo que também existe um grande número de alunos bolseiros deslocados de outras ilhas do arquipélago dos Açores nos pólos de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
"Temos alguns das outras ilhas, da Terceira, Faial e Pico, mas a grande maioria são alunos de São Miguel, excepto os alunos de medicina, em que temos alunos do continente ou da Madeira que são nossos bolseiros, mas a grande maioria são alunos dos Açores", declarou.
A responsável garante que se tenta dar resposta "a todos os casos que chegam ao departamento de acção social da Universidade dos Açores" e que muitas vezes os apoios concedidos vão além das bolsas.
"Procuramos apoiar os alunos através de um trabalho nas cantinas, no pavilhão desportivo ou nas residências e a contrapartida são as senhas de alimentação e temos muita procura também nessa área. Temos muitos contactos com a Associação Académica, porque há muita pobreza envergonhada e há situações que não nos chegam e depois temos alguma dificuldade em responder ou apoiar", disse.
Ana Gouveia referiu que a grande maioria das bolsas são atribuídas pela direcção-geral do ensino superior e que o valor médio tem-se mantido nos 1.900 euros por ano, pagos em dez prestações, sendo que para os alunos deslocados há um complemento de mais 100 euros.
Entre os 822 alunos bolseiros da Universidade dos Açores no ano lectivo 2015/2016 está Sónia Pacheco, do segundo ano da Licenciatura em Educação Básica, que adiantou à agência Lusa que se não fossem os 179 euros de bolsa mensal estaria impedida de continuar a estudar.
"Pago 80 euros de transporte e 99 euros para as propinas. Esta bolsa é muito importante para mim porque o meu pai costuma ficar desempregado muitas vezes e se não fosse esta bolsa eu não estaria a estudar", admite a aluna, de 20 anos.
Também para Diana Matos, de 19 anos, seria difícil prosseguir os estudos universitários caso não recebesse os 280 euros por mês que asseguram "alojamento, propinas e alguma da alimentação" a esta estudante oriunda da ilha de São Jorge, deslocada na ilha de São Miguel.
No caso de Maria do Bem, estudante de 20 anos, seria "impossível" frequentar a universidade caso não usufruísse de uma bolsa de estudo no valor anual de 2.230 euros, que lhe permite assegurar todo o material necessário a uma estudante invisual.
"Eu sou aluna invisual e as folhas de braille são muito caras e, portanto, a bolsa dá para pagar as propinas, as folhas de braille e alguma alimentação. Se não tivesse este apoio seria impossível estudar", admitiu a aluna do terceiro ano da licenciatura de educação básica.