Autarca das Velas rejeita risco de descaracterização das fajãs de São Jorge
2019-02-05 08:42:02 | Lusa
O presidente do município das Velas, Luís Silveira, disse que a legislação existente permite evitar a descaracterização das fajãs da ilha de São Jorge, consideradas como um dos seus principais atrativos de turismo de natureza.
“Não me parece que estejam [em risco], antes pelo contrário. Aquilo que hoje acontece nas fajãs, de grosso modo, é algumas recuperações de património existente e que me parecem que estão a ser muito bem conseguidas e que não abonavam nada da forma como estava abandonadas há muitos anos”, adiantou.
Luís Silveira falava, em declarações aos jornalistas, à margem de um 'workshop' sobre produtos turísticos em espaços costeiros protegidos na região da Macaronésia, que decorreu nas Velas e que teve como principal foco as fajãs de São Jorge.
A iniciativa organizada pela Associação Regional de Turismo (ART) realizou-se no âmbito do projeto Ecotour, que envolve 11 parceiros de cinco regiões (Açores, Canárias, Cabo Verde, Mauritânia e Senegal), tendo marcado presença nas Velas vários representantes das Canárias.
A ilha de São Jorge tem mais de sete dezenas de fajãs - pequenas planícies junto ao mar que tiveram origem em desabamentos de terras ou lava – que são, desde 2016, Reserva da Biosfera da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e dos locais mais procurados pelos turistas.
O autarca das Velas admitiu alguma preocupação com a necessidade de preservação da qualidade de vida da população de São Jorge, com o aumento do turismo, mas disse que a ilha ainda tem margem para crescer.
“Se, por um lado, tenho a certeza de que nós temos todas as condições para vender a região, a ilha e o concelho de Velas pela qualidade ambiental que temos, fica a dúvida e a incerteza se nós teremos, efetivamente, essa capacidade de manter a qualidade de vida de quem aqui vive e a qualidade ambiental”, apontou.
Luís Silveira disse mesmo que a autarquia já foi abordada por vários privados que manifestaram intenções de fazer investimentos na ilha, mas sublinhou que as regras de gestão do território estão bem definidas no Plano de Ordenamento da Orla Costeira e no Plano Diretor Municipal, que estão inclusivamente em fase final de revisão.
“Irão permitir o desenvolvimento harmonioso da ilha, mas balizando algumas tentações que possam haver de investidores”, apontou, acrescentando que a legislação atual já proíbe construções que venham a “descaracterizar a essência de uma fajã”.
Questionado sobre um investimento em alojamento, na fajã do Ouvidor, com assinatura do arquiteto Souto Moura, o autarca das Velas disse que foram adquiridos terrenos e que o projeto deverá ser submetido a licenciamento no primeiro semestre deste ano, mas sublinhou que se trata de um projeto de turismo em espaço rural e não de um alojamento tradicional.
“Por aquilo que tenho conhecimento, o próprio grupo de investimento tem muito essa sensibilidade ambiental, porque diz que só consegue vender o seu investimento se tiver esta qualidade ambiental. Senão, deixa de ter o objetivo de vender um destino de natureza”, frisou, acrescentando que o projeto deverá “criar inúmeros postos de trabalho e trazer muita rentabilidade económica aos outros setores”.
Também o presidente da ART, José Toste, considerou que as fajãs de São Jorge ainda têm potencial de crescimento, sem perderem a sua sustentabilidade.
“Melhor do que ninguém para trabalhar isso são, realmente, a população local e as empresas de animação turística locais, que, na minha opinião, têm feito um trabalho importante no sentido de levar quem visita São Jorge a essas fajãs, sem se estar a causar impactos ambientais. No entanto, cremos que há aqui margem de manobra para se poder tirar um maior potencial turístico destas fajãs”, adiantou.
Para José Toste, as fajãs de São Jorge são “únicas” e, por isso, é preciso ter “muito cuidado em trabalhar esses recursos de uma perspetiva turística”, mas há “cada vez mais a preocupação ambiental”.
“As estratégicas que estão a ser decididas agora serão aquelas que levarão ao futuro das fajãs, portanto têm de ser muito bem pensadas, para que no futuro não tenhamos de arranjar estratégias para corrigir estratégias erradas”, alertou.