Igreja dos Açores promete “tolerância zero” com abusos sexuais
2023-02-14 11:12:09 | Lusa

O bispo de Angra e Ilhas dos Açores, Armando Esteves Domingues, afirmou que vai existir “tolerância zero” com os abusos sexuais na Igreja, realçando que a diocese vai continuar a recolher testemunhos de vítimas.

“Da minha parte e da diocese, gostaria de dizer que haverá tolerância zero nesse campo. Não toleramos esse tipo de procedimentos. Tudo faremos para que sejam erradicados definitivamente, não só na Igreja, como na sociedade em que vivemos”, afirmou, falando aos jornalistas no Centro pastoral Pio XII, em Ponta Delgada.

Armando Esteves Domingues reagia à divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que identificou oito casos de abuso nos Açores: um em Angra do Heroísmo, um na Praia da Vitória, um na Calheta, dois nas Velas, um no Faial, um nas Lajes do Pico, um em São Roque do Pico.

“Acabado de receber o relatório final sobre os abusos com crianças no seio da Igreja, não posso deixar de exprimir a profunda vergonha e a dor que sinto, mas essa não se compara em nada com o que será a dor das vitimas”, acrescentou.

No âmbito da elaboração daquele relatório, o bispo de Angra do Heroísmo avançou que os arquivos da diocese açoriana foram estudados por dois investigadores durante três dias.

Para Armando Esteves Domingues, pedir “perdão às vítimas em nome da Igreja é pouca coisa”.

“Queria dizer às vítimas que, em momento algum, quereria que se sentissem sós. Não estão sozinhos. Se tínhamos uma comissão, agora mais se compromete. A Comissão Independente terminou o seu trabalho, entregando o relatório, mas a diocese continuará esse espaço de escuta”, destacou.

O bispo considerou que o relatório vai permitir “estudar estratégias para o futuro” e deixou uma “palavra de solidariedade” a todos os abusados que “não quiseram exprimir em queixa o seu lamento interior”.

“Mesmo que haja crimes prescritos, para a Igreja não há prescrição. O direito canónico não prescreve. Portanto, [as vítimas] serão pessoas que queremos continuar a ouvir, a acolher, a acompanhar e a responder àquilo que necessitaram”, reforçou.

Sobre o facto de a ilha de São Miguel, a maior dos Açores, não ter tido qualquer caso denunciado, Armando Esteves Domingues não quis comentar a possibilidade de os números estarem subdiagnosticados.

“As vítimas que quiseram falar falaram livremente. São provenientes de determinados concelhos. As vítimas queixam-se de pessoas naqueles lugares. É um dado objetivo. Não quero tecer considerações sobre a maior das ilhas que, de facto, não tem casos”, apontou.

Acompanhando o bispo, Maria do Sameiro, membro comissão diocesana de proteção de menores, revelou que não chegou qualquer denúncia àquela comissão constituída “há mais de um ano”.

“Com encerramento dos trabalhos a nível nacional, a comissão diocesana mantém-se e mantém aberta a possibilidade de qualquer pessoa que queira apresentar uma denúncia vir ter connosco. Temos uma linha de inverter um telefone próprio que é o 913766061”, reforçou.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou, segunda-feira, o coordenador Pedro Strecht, que referiu ainda que esta comissão enviou para o Ministério Público 25 casos.

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