Parlamento dos Açores instalou-se na Horta para evitar “violência” da FLA - ex-deputado
2016-05-14 09:22:38 | LUSA
O parlamento dos Açores foi instalado há 40 anos na Horta,
ilha do Faial, para evitar os movimentos independentistas e as manifestações
dos apoiantes da Frente de Libertação dos Açores (FLA), disse hoje o
ex-deputado Fernando Faria.
"Na altura, em 1976, a cidade da Horta era tida como,
das três capitais de distrito, a que menos violência podia suscitar",
disse Fernando Faria, antigo deputado da Assembleia Legislativa Regional,
eleito pelo PPD/PSD e que esteve ligado aos primórdios do processo autonómico
no arquipélago.
O ex-parlamentar adiantou que um ano antes, tanto em Angra
do Heroísmo como em Ponta Delgada, tinham ocorrido assaltos, manifestações e
rebentamento de bombas, resultantes de movimentos independentistas,
justificando que o órgão máximo da autonomia regional ficasse sediado na ilha
do Faial.
A reconhecida pacatez do Faial foi também realçada no
discurso inicial do primeiro presidente da Assembleia Legislativa dos Açores,
Álvaro Monjardino, salientando que a Horta é "um lugar de paz e de
abertura ao mundo, de acolhimento e de tolerância".
A ideia inicial da Junta Regional dos Açores, entidade
criada para instalar o parlamento, era, contudo, fazer com que a Assembleia
Regional se reunisse, rotativamente, pelas três cidades ex-capitais de distrito
(Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta).
"Mas isto era uma ilusão", admitiu agora Fernando
Faria, reconhecendo que não seria possível, naquele tempo, andar a transportar,
de uma ilha para a outra, a logística necessária para a realização das sessões
plenárias.
A primeira sede provisória do parlamento dos Açores foi a
Sociedade Amor da Pátria, uma instituição cultural e recreativa com origens
maçónicas, cuja sede é um imponente edifício de art déco construído da década
de 1930 no centro da cidade da Horta
O imóvel, cujo projeto foi elaborado por Manuel Joaquim
Norte Júnior, considerado um dos melhores arquitetos do país, acolheu a 20 de
julho de 1976 a sessão preliminar da Assembleia Legislativa dos Açores, à data
composta por 43 deputados (27 do PPD, 14 do PS e 2 do CDS).
"Ninguém estava a tempo inteiro, eventualmente apenas o
presidente. Os restantes só recebiam quando havia plenários da assembleia ou comissões",
lembrou Fernando Faria, adiantando que, naquele tempo, "não havia
profissionais na política".
Nos primeiros anos da autonomia regional, o parlamento dos
Açores realizava apenas três sessões legislativas por ano, ao contrário das
atuais 11 (uma por mês, à exceção de agosto, quando está encerrado).
"Eu era professor no liceu da Horta e tinha uma série
de atividades, mas não ganhava nada delas. Era membro da comissão
administrativa da Câmara Municipal da Horta, era adjunto do secretário regional
dos Transportes e Turismo, diretor do jornal Correio da Horta e deputado. E
conseguia conciliar tudo isto", referiu o social-democrata.
Fernando Faria, atualmente com 72 anos, foi deputado durante
16 anos consecutivos, de 1976 a 1992 (quatro legislaturas), período em que o
parlamento dos Açores mudou de sede por duas vezes.
Em 1980, o parlamento instala-se no denominado Edifício do
Relógio, propriedade do Estado, onde tinha funcionado a estação
cabo-telegráfica alemã, uma das que estiveram instaladas na ilha do Faial.
"A sala de plenário funcionava na antiga messe dos
funcionários solteiros da companhia alemã de cabos submarinos", registou o
antigo parlamentar, referindo que o espaço era exíguo para acolher os 43
deputados.
"Quase todos fumavam. Nas sessões que duravam até às
duas e três da manhã, era terrível", sublinhou Fernando Faria,
acrescentando que, "logo ali se percebeu que era necessário construir um
edifício de raiz" para receber o parlamento dos Açores.
A atual sede da Assembleia Regional, da autoria do arquiteto
Manuel Correia Fernandes, viria a ser inaugurada em 1990, destacando-se pela
sua volumetria e arquitetura e pelos jardins que lhe servem de cobertura, que
dão a ideia de que o imóvel foi esculpido na rocha.
Além de uma sala de plenário, no centro do edifício, em
forma de círculo, a sede da assembleia integra gabinetes para os atuais 57
deputados, número que aumentou, entretanto, devido a várias revisões da lei
eleitoral.
Os Açores assinalam este ano, tal como a Madeira, os 40 anos
da sua autonomia. Na segunda-feira, as nove ilhas vivem o Dia da Região.