Governo dos Açores e câmara de Angra do Heroísmo pedem novas análises à areia da Prainha
2019-08-14 09:17:50 | Lusa
O município e o delegado de saúde de Angra do Heroísmo não vão interditar a zona balnear da Prainha, mas vão solicitar novas análises ao Instituto Ricardo Jorge, alegando que as divulgadas pela associação Azulinvade não são certificadas.
“Obviamente que nós não as descartamos completamente. Eu não sei como é que elas foram recolhidas, ninguém sabe, razão pela qual se pediu uma análise tecnicamente fundamentada ao Instituto Ricardo Jorge, que virá fazer a recolha. Aquelas são análises não certificadas, porque não seguiram o protocolo que está estabelecido, nem quanto à recolha, nem quanto ao local de recolha, nem quanto ao manuseamento”, avançou em declarações aos jornalistas o presidente do município de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses.
A associação ambiental Azulinvade, que há mais de um ano alerta para a possibilidade de a zona balnear da Prainha, nos Açores, estar contaminada, enviou no passado dia 06 amostras de areia para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em Lisboa.
Segundo o relatório, a que a Lusa teve acesso, “os valores obtidos excedem os valores recomendados".
Os valores das bactérias coliformes, da bactéria Escherichia Coli e de enterecocos intestinais estão acima dos 201 por grama, quando os valores máximos admissíveis são de 100 por grama, no caso das bactérias coliformes, e de 20 por grama no caso das restantes.
Numa conferência de imprensa conjunta, depois de uma reunião que juntou as direções regionais da Saúde e dos Assuntos do Mar dos Açores e a delegação de saúde, a câmara municipal e a capitania do porto de Angra do Heroísmo, o autarca e o diretor regional da Saúde anunciaram que se deverá deslocar em breve à ilha Terceira um técnico do Instituto Ricardo Jorge para recolher novas amostras da areia da Prainha.
“Com base naquilo que foi tornado público, não nos permite definir se a contaminação está circunscrita a determinada área, se é extensível a todo o areal. A informação é mais sensacionalista do que propriamente científica e temos que definir esse plano de amostragem para fazer as recolhas de forma organizada, sistematizada e com metodologia própria, para podermos decidir se há, ao fim ao cabo, alguma fundamentação para implementar a interdição total ou parcial do areal”, avançou o diretor regional da Saúde, Tiago Lopes.
O responsável acrescentou que “não há registo de problemas de saúde pública” nos centros de saúde e no hospital da ilha Terceira.
“Não têm sido detetadas manifestações clínicas junto da população, quer de transtornos gastrointestinais, quer de outra sintomatologia ao nível cutâneo, por exemplo”, apontou.
Até que sejam feitas novas análises, “a bandeira verde vai continuar içada” e “a Prainha vai continuar a funcionar”, garantiu Álamo Meneses.
Desde julho de 2018 que a associação ambiental Azulinvade denuncia nas redes sociais e junto das autoridades competentes a existência de descargas de esgotos sem tratamento para o mar em Angra do Heroísmo, numa zona a cerca de um quilómetro da zona balnear.
O autarca admitiu que quando chove com mais intensidade em Angra do Heroísmo são feitas descargas de emergência para o mar.
Ainda assim, disse que as análises feitas ao longo dos últimos 12 anos comprovam que as descargas que ocorrem junto ao Porto das Pipas não afetam a qualidade da água na Prainha, acrescentando que já entrou em funcionamento uma nova estação elevatória, que permitirá retirar cerca de 70% dos esgotos que eram encaminhadas para a que se encontra no centro da cidade.
O presidente da associação Azulinvade, João Medeiros, acusou as entidades de se recusarem a fazer análises nos dias seguintes às descargas de emergência, mas Álamo Meneses disse que as amostras são recolhidas por uma “entidade externa, devidamente certificada”, que segue as datas determinadas pela direção regional dos Assuntos do Mar.
“Nós seguimos a lógica do que está legalmente fixado e do que está cientificamente testado”, sublinhou.