Nicolau Breyner e Teixeira-Gomes evocados na mostra de cinema português da Ilha Terceira
2016-11-24 08:44:00 | Lusa

O Cine-Clube da Ilha Terceira inicia hoje, em Angra do Heroísmo, Açores, uma mostra de cinema português contemporâneo, com nove filmes, que inclui a estreia de "Zeus", sobre Teixeira-Gomes, e uma homenagem a Nicolau Breyner.

O Cine-Altântico decorre até domingo e presta uma homenagem ao ator Nicolau Breyner, ator falecido este ano, em Lisboa, aos 76 anos, contando com a presença de quatro realizadores em Angra do Heroísmo: Paulo Filipe Monteiro, António-Pedro Vasconcelos, Marta Pessoa e António Borges Correia.

O festival abre hoje com a estreia nacional de “Zeus”, de Paulo Filipe Monteiro, um filme sobre o escritor e ex-Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, que se auto exilou em Bougie, na Argélia, para onde partiu no paquete Zeus, depois da resignação.

Na sexta-feira, são apresentados “Yvone Kane”, de Margarida Cardoso, que joga com a memória da pós-independência, num país africano, e “Os Imortais”, de António-Pedro Vasconcelos, centrado em quatro ex-comandos e nos traumas da guerra colonial, que conta com Nicolau Breyner, entre os protagonistas.

Quando da morte do ator, no passado mês de março, António-Pedro Vasconcelos disse à agência Lusa que fez "'Os Imortais' a pensar nele, porque era um ator único, que sabia muito bem interpretar todas as emoções - a tristeza, a alegria, a ironia - e doseá-las para cada cena".

No sábado, Cine-Altântico tem programada a exibição de “Cavalo Dinheiro”, de Pedro Costa, Leopardo de Melhor Realizador, no festival de Locarno (2014), um reencontro com Ventura, o imigrante cabo-verdiano de filmes anteriores do cineasta.

No mesmo dia passam “Montanha”, primeira longa-metragem de João Salaviza, dirigida na perspetiva de um adolescente, num dado momento da sua vida, e “O Medo à Espreita”, de Marta Pessoa, documentário com a memória dos que viveram sob a ameaça dos informadores da PIDE/DGS e da sua tortura, diariamente, durante a ditadura do Estado Novo.

O festival termina no domingo com “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, de João Botelho, “Os Olhos de André”, de António Borges Correia, baseado na história real de reconstrução de uma família, melhor filme português no IndieLisboa 2015, e “Cartas da Guerra”, de Ivo M. Ferreira, assente na correspondência do escritor António Lobo Antunes, com a primeira mulher, durante a Guerra Colonial.

Segundo o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira, Jorge Paulus Bruno, o Cine-Atlântico dá resposta ao principal objetivo da organização, a formação de públicos, e procura desmistificar o preconceito existente sobre o cinema nacional, numa ilha em que os filmes portugueses praticamente não são exibidos.

“As pessoas têm uma certa aversão ao cinema português. Acham que é maçador, que é um cinema só para intelectuais. Todavia, a par de produções de menor qualidade, há produções muito boas. Veja-se a quantidade de prémios internacionais que produções portuguesas têm recebido”, salientou.

A mostra de cinema português contemporâneo surge em alternativa a um festival internacional, para o qual o Cine-Clube não conseguiu financiamento.

“Não conseguimos, da parte do Governo Regional, ao longo de dois anos, na área do Turismo, uma resposta que nos permitisse avançar com esse projeto”, disse, em declarações à agência Lusa, Jorge Paulus Bruno.

O presidente do Cine-Clube destacou a importância de os Açores terem um festival internacional de cinema, alegando que o evento seria um grande acontecimento, não só do ponto de vista cultural, como turístico.

“Não desistimos e continuaremos a tentar conseguir os recursos financeiros necessários”, frisou.

Criado em 1977, o Cine-Clube da Ilha Terceira esteve vários anos inativo, retomando a sua atividade há cerca de quatro anos.

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