Colecionador particular tem cerca de 400 presépios em Angra do Heroísmo
2016-12-12 09:10:00 | Lusa

Duarte Gonçalves da Rosa, padre, maestro e funcionário da biblioteca pública de Angra do Heroísmo, nos Açores, tem uma coleção com cerca de 400 presépios de várias partes do mundo, que agora mostra ao público.

“Quando dei por mim já estava a colecionar, talvez por um fascínio que tenho por tudo aquilo que o presépio representa”, adiantou, em declarações à Lusa.

A coleção tem já cerca de 400 presépios e, este Natal, até 07 de janeiro, 134 estão expostos na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, onde trabalha Duarte Gonçalves da Rosa, natural de Angra do Heroísmo.

O encanto pelos presépios começou ainda na infância, numa família “humilde, mas rica em valores”, que sempre fez questão de cumprir a tradição.

“Na minha casa cultivava-se muito o fazer o presépio. Levava-se o advento todo a preparar as coisas para ter o presépio pronto para a festa do Natal”, salientou.

Hoje atribuiu o fascínio pelos presépios à “mensagem de esperança” que transmitem, sobretudo para quem está em dificuldades, mas ainda assim “acredita na vitória do amor”.

“Com o crescer, com o aprofundamento da consciência social e religiosa, acabei por perceber que o presépio é extremamente violento. Pode parecer chocante, mas não. Acaba por ser uma criança nascida longe da terra dos seus pais, por obrigação, por causa de um recenseamento imposto pelo despotismo do império romano, uma criança perseguida, que é obrigada a fugir para uma terra estrangeira”, explicou.

Aos 59 anos, Duarte Gonçalves da Rosa continua a montar o presépio em família e a acreditar nos valores que representa, embora admita que isso não aconteça em todos os lares açorianos.

“Penso que esta cultura consumista às vezes suplanta este valor do presépio. O presépio é uma lição para que haja uma mudança definitiva na história da humanidade, para que se faça dos pobres e dos esquecidos os protagonistas da história”, frisou.

Entre os presépios que coleciona há um de meados do século XX, que tem valor sentimental.

“Tenho um presépio de pasta de papel que é da minha bisavó. Sempre me lembro dele lá em casa. Estava-se a desfazer, mas uma colega minha restaurou-o”, adiantou.

Há outros com valor artístico, como os presépios feitos por artesãos da ilha Terceira, em lapinha ou com materiais típicos, como as cabaças ou as folhas de milho.

A coleção de presépios de Duarte Gonçalves da Rosa é também uma viagem pelo mundo, já que há peças de praticamente todos os continentes.

“Nas viagens fui vendo que esta mensagem do presépio que dá primazia aos pobres e aos humildes sobre a soberba, o egoísmo e o triunfalismo é transversal a todas as culturas”, sublinhou, acrescentando que os amigos também já lhe oferecem presépios quando viajam.

Apesar de a mensagem ser a mesma, os vários países vão inserindo elementos da sua própria cultura no presépio.

“A base é o pai, a mãe e o filho. No entanto, é curioso ver que, por exemplo, no presépio chinês a gruta de Belém é um pagode e os animais não são um burro e uma vaca, são um dragão e um panda, assim como no da Índia há um tigre. No presépio japonês a virgem está de quimono”, explicou o colecionista.

Notícias Relacionadas Horizonte